sexta-feira, 19 de abril de 2024


Génese

"Todo o poema começa de manhã, com o sol.

 Mesmo que o poema não esteja à vista (isto é, céu de chuva)

o poema é o que explica tudo, o que dá luz

à terra, ao céu, e com nuvens à mistura - a luz incomoda

quando é excessiva.

Depois, o poema sobe

com as névoas que o dia arrasta; mete-se pelas copas das

árvores, canta com os pássaros e corre com os ribeiros

que vêm não se sabe de onde e vão para onde

não se sabe.

O poema conta como tudo é feito:

menos ele próprio, que começa por um acaso cinzento,

como esta manhã, e acaba, também por acaso,

com o sol a querer romper."

Nuno Júdice


                                                     Escultura s/tela Antonieta Figueiredo


 

Sem comentários:

Enviar um comentário