quinta-feira, 25 de janeiro de 2018






"Nascemos, e nesse momento 
é como se tivéssemos 
firmado um pacto para toda a vida, 
mas o dia pode chegar em que nos perguntemos 
Quem assinou isto por mim"

José Saramago Ensaio Sobre a Lucidez




                          "Fragmentos"Óleo s/tela  © All rights reserved  - Antonieta Figueiredo






"Não é a casa que nos abriga
nós é que abrigamos a casa,
pois é a ternura que sustenta o teto."

Mia Couto




"Refexo" "Arte digital de Antonieta Figueiredo © All rights reserved
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"És livre na luz do Sol e livre ante a estrela da noite. E és livre quando não há Sol, nem Lua ou estrelas. Inclusive, és livre quando fechas os olhos a tudo que existe."
Khalil Gibran




"Refexos e reflexões" Arte digital de Antonieta Figueiredo © All rights reserved 
                       http://olhares.sapo.pt/reflexos-e-reflexoes-foto8907719.html


"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o 
momento e aprender sua duração, pois a vida 
está nos olhos de quem saber ver.“

Gabriel García Márquez





Arte digital de Antonieta Figueiredo
© All rights reserved

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A Racionalidade Irracional
"Eu digo muitas vezes que o instinto serve melhor os animais do que a razão a nossa espécie. E o instinto serve melhor os animais porque é conservador, defende a vida. Se um animal come outro, come-o porque tem de comer, porque tem de viver; mas quando assistimos a cenas de lutas terríveis entre animais, o leão que persegue a gazela e que a morde e que a mata e que a devora, parece que o nosso coração sensível dirá «que coisa tão cruel». Não: quem se comporta com crueldade é o homem, não é o animal, aquilo não é crueldade; o animal não tortura, é o homem que tortura. Então o que eu critico é o comportamento do ser humano, um ser dotado de razão, razão disciplinadora, organizadora, mantenedora da vida, que deveria sê-lo e que não o é; o que eu critico é a facilidade com que o ser humano se corrompe, com que se torna maligno. 

Aquela ideia que temos da esperança nas crianças, nos meninos e nas meninas pequenas, a ideia de que são seres aparentemente maravilhosos, de olhares puros, relativamente a essa ideia eu digo: pois sim, é tudo muito bonito, são de facto muito simpáticos, são adoráveis, mas deixemos que cresçam para sabermos quem realmente são. E quando crescem, sabemos que infelizmente muitas dessas inocentes crianças vão modificar-se. E por culpa de quê? É a sociedade a única responsável? Há questões de ordem hereditária? O que é que se passa dentro da cabeça das pessoas para serem uma coisa e passarem a ser outra? 
Uma sociedade que instituiu, como valores a perseguir, esses que nós sabemos, o lucro, o êxito, o triunfo sobre o outro e todas estas coisas, essa sociedade coloca as pessoas numa situação em que acabam por pensar (se é que o dizem e não se limitam a agir) que todos os meios são bons para se alcançar aquilo que se quer. 
Falámos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias." 

José Saramago, in 'Diálogos com José Saramago' 






                       "Mutações" acrílico s/tela 80x80 colecção particular © All rights reserved 



sexta-feira, 5 de janeiro de 2018




Secreta Viagem

"No barco sem ninguém, anónimo e vazio, 
ficámos nós os dois, parados, de mão dada... 
Como podem só dois governar um navio? 
Melhor é desistir e não fazermos nada! 

Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos, 
tornamo-nos reais, e de madeira, à proa... 
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos... 
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa... 

Aparentes senhores de um barco abandonado, 
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem... 
Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado, 
se justifica, enflora, a secreta viagem! 

Agora sei que és tu quem me fora indicada. 
O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos. 
— Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada, 
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!"

David Mourão-Ferreira, A Secreta Viagem






                                "Revelação" acrílico s/tela (fragmento) © All rights reserved